As Atitudes de Jesus para com a inclusão dos excluídos
Mateus 19, 13-15
Para ilustrar este sermão quero compartilhar duas experiências que tive em minha caminhada de fé nestes dias. A primeira experiência foi há alguns meses atrás. Ao caminhar pela calçada de uma das ruas de São Paulo, me deparei com algumas crianças cheirando cola de sapateiro. A situação em que elas se encontravam, eram totalmente sujas, com roupas rasgadas e fedendo a lixo. Comecei então a falar de Jesus e elas logo me interromperam exclamando: “Sabemos que Jesus nos ama e nós também o amamos!”
A segunda experiência foi no mês passado na comunidade onde servi como seminarista. Enquanto iniciava a liturgia do culto, entrou um homem na Igreja todo sujo. Seus cabelos longos estavam grudados uns aos outros com bolotas de sujeiras pregadas. Suas mãos estavam pretas como um carvão. Sua barba estava molhada pela saliva que corria de sua boca. Suas roupas estavam rasgadas e sujas, e, quando me direcionei a palavra a ele, me pareceu que ele era mudo, pois não saia pronunciação de palavras da sua boca.
Diante destas situações questiono: Em que posição estas crianças e este homem estão diante de Jesus? Qual é a atitude de Jesus para com estas vidas?
Jesus viveu em uma sociedade que era muito exclusivista e preconceituosa, só tinha a palavra quem era homem e estava completamente saudável em sua saúde. Jesus quebrou alguns paradigmas através de suas atitudes, incluindo os que haviam sido excluídos pela sociedade. Jesus em sua caminhada tocou os enfermos em que ministrou a cura, foi ungido por uma prostituta, esteve na casa de pecadores e neste texto, acolheu as crianças. Assim, Jesus andou na contra mão dos costumes de sua época.
Neste texto, o evangelista menciona que trouxeram algumas crianças para Jesus, e está atitude de trazer as crianças até Jesus, tudo indica que foi realizada pelas mães das mesmas, as quais também sofriam preconceitos. A sociedade exclusivista tentou impedir a aproximação, o texto diz: “mas os discípulos os repreendiam”.
Como Jesus se posicionou diante desta situação? Quais atitudes Ele realizou para reverter este episódio e incluir os exclusos?
A primeira atitude que Jesus realizou para a inclusão foi.
1. Ensinar os discípulos
Na cultura judaica as crianças não gozavam de especial espaço. Um rabino não “perdia tempo” com elas. Eram consideradas incapazes de cumprir a Lei, portanto, de segunda categoria. Naquele momento os discípulos acreditavam que as crianças importunavam e que não receberiam beneficio algum.
Jesus iniciou sua ação repreendendo a comunidade exclusivista, ele disse: “não os impeçais”, ou seja, não as excluem. A razão que Jesus apresenta para ordenar a seus discípulos que deixem de impedir os pequeninos que vão a ele é: “Porque a elas – Isto é, a elas e a todos os que são como elas em humildade e confiança pertence o reino do céu.”
Os evangelistas Marcos e Lucas, ainda mencionam que Jesus acrescenta que: “quem não receber o Reino de Deus como uma criança não entraria nele”. Isto significa que além do Reino pertencer a elas, deve-se aprender com elas, através de suas atitudes.
Portanto, Jesus ensina os seus discípulos estes princípios e nos desafia a aprender estes princípios para exercermos a verdadeira inclusão de todos que estão exclusos pela sociedade. Sendo assim, que possamos aprender com Jesus e ensinar a nossa comunidade a respeito da inclusão.
A segunda atitude que Jesus realizou para a inclusão foi.
2. Impor as mãos
A imposição de mãos faz alusão ao costume judeu de colocar as mãos sobre as crianças para abençoá-las. Disto vemos um exemplo na benção de Jacó pronunciada sobre os filhos (cf. Gn 49).
A atitude de Jesus era a pratica, não havia simplesmente argumentos e sim atitudes de inclusão. Jesus se preocupava com o exterior dos excluídos e para transmitir a cura exterior, Jesus colocava suas mãos. Foi assim com o cego, com o paralitico, com a sogra de Pedro e outros milagres realizados por ele.
Precisamos balancear nossos argumentos filosóficos e teológicos com a praticidade, proporcionando verdadeiramente a inclusão dos excluídos pela sociedade. Precisamos literalmente impor as mãos, ou seja, lutar pelos direitos dos fragilizados.
Assim como Jesus impôs as mãos e recebeu aquelas crianças, que esta comunidade, através dos dons espirituais e da inteligência nas pesquisas, possam também colocar as mãos sobre as nossas crianças, sobre os nossos exclusos, lutando pela suas inclusões.
A terceira atitude que Jesus realizou para a Inclusão foi.
3. Abençoar por meio da oração
Por ser discriminado, feridas e magoas aprisionam o excluído. Portanto, somente através da oração para se estabelecer a cura interior. Jesus abençoa as crianças curando todo trauma, toda rejeição, toda falta de amor causado pelo preconceito.
Ao abençoar as crianças, Jesus está indicando que são elas, o modelo dos verdadeiros sujeitos do Reino de Deus.
Que nós possamos colocar no coração das crianças a benção da palavra de Deus, mui certos de que um dia a semente germinará, crescerá e produzirá ótimos frutos. Estejamos certos de que pensam, sentem e raciocinam mais do que parece a primeira vista e o Espírito Santo opera nelas com tanta eficácia como em pessoas de maior idade; mas, antes de tudo, intercedamos por elas junto de Jesus e peçamos-lhes que as acolha debaixo de sua proteção e amparo.
CONCLUSÃO
Podemos afirmar que vivemos também em um mundo de exclusivismo, preconceito e descaso. Não damos a devida importância para aqueles e aquelas que realmente necessitam de um maior acolhimento. Deficientes físicos e mentais estão sofrendo com os preconceitos e injustiças, as mulheres estão sendo violentadas pelos maridos e por homens sem escrúpulo e o que dizer de nossas crianças que estão sendo cada vez mais, violentadas por pedófilos e pessoas perturbadas. E o que dizer das duas experiências comentadas no inicio deste sermão?
Jesus ensina que acolher uma criança é acolher o Reino, é acolher a Ele, é acolher o Pai que o enviou.
Quando a Igreja realiza o batismo de crianças e serve a ceia para todos que se achegam a mesa, podemos dizer que está é uma forma de incluir os exclusos de atos tão importantes da vida cristã. Porém, somos desafiados a aprimorar nossas liberdades em relação aos excluídos pela sociedade; precisamos nos deixar ser ensinado e também ensinar nossas comunidades a respeito da inclusão e do valor que possui um excluso; necessitamos colocar as mãos, saindo do discurso pragmático e partindo para a praticidade; e por fim, restam-nos, como ministros de Deus sobre esta terra, abençoar estas vidas ministrando a cura interior.
Sejamos sim uma comunidade que possui argumentos filosóficos e teológicos, uma comunidade que busque a unção do Espírito Santo, porém, muito mais, que possua a práxis destes argumentos e desta espiritualidade lutando por uma inclusão de todos e todas.
Que o amor de Deus, a graça de Jesus e a unidade do Espírito Santo nos ajudem a incluir aqueles e aquelas que foram ou estão exclusos pela sociedade. Amem.
Pr. Ramilson Pereira da Cruz – caminhando em Cristo junto com você.